quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Zé Cachaça e a Universal



Sabe aquele ditado de que “Deus escreve certo por linhas tortas”? Pois esses dias meu amigo Zé Cachaça parou de beber. Fiquei até sem graça de continuar lhe chamando pelo apelido...

A bebida é uma coisa estranha: há quem conte que bebeu e acordou em um lugar desconhecido, que bebeu e foi roubado, ou enganado, há até quem – como um outro amigo meu, o Gabriel – bebeu e acordou entre dois dançarinos musculosos de boite. Ele disse que não sabe o que houve... em nenhuma das três vezes que isso aconteceu. É... a bebida é um perigo...

Pois o meu etílico amigo Zé Cachaça já provou de quase todos esses presentes de grego do Deus (grego) do porre: Baco. Só não confessa ter provado o mesmo do Gabriel, mas há quem duvide. Mesmo assim, nunca havia nem mesmo cogitado a possibilidade de abandonar aquela vida promissora rumo à sarjeta.

Aconteceu que, um belo dia, tomou um daqueles porres dignos de olimpíada bebum de faculdade e foi tropeçar na escadaria de uma igreja Universal. Ele não sabe bem o que aconteceu, mas sabe que perdeu a casa, o carro, o tênis, a cueca e as moedinhas de troco da cachaça que ele tinha juntado para comprar pão.

Foi um desespero só. Ele ficou tão liso que nem para comprar cachaça ele não tinha mais. Revoltou-se daquela revolta sincera e sofrida que só quem vive a delícia de uma ressaca ao meio-dia de sol na moleira pode ter. Foi pedir ajuda em tudo quanto é canto, sempre carregando um diplominha bem bonitinho dado pelo pastor de “dizimista modelo” e com direito a assinatura de Jesus Cristo. Ele diz que, entre todas as coisas de que ele não se lembra, a que mais gostaria de lembrar era de Jesus assinando o diploma.

Pois o Zé foi bater em minha porta esses dias: engravatado, carro esporte, pinta de magnata do petróleo. Foi me contar que, antes de ser bebum profissional, havia sido investidor e começara a beber após perder quase tudo na Avestruz Master (só sobrou aquilo que o destino separou para ele perder na Universal). Contou também que parou de beber não por raiva, mas por admiração àqueles homens de negócio, e teve um insight!

O Zé então me disse que montou a Igreja Biscateriana Metedista Renovada. Ele me explicou, em termos técnicos, que aquilo “objetivava um público alvo amplo no mercado do Godbusiness”, público formado por pessoas que não queriam seguir o puritanismo da agora concorrente Universal. No entanto, apesar de bem planejado, o empreendimento foi um retumbante fracasso. Meu amigo descobriu que entrou num mercado concorridíssimo, disputado a tapa e beliscão por micaretas e bailes funk. Foi aí que ele ergueu a cabeça e não desistiu do seu belo sonho: encher o rabo de grana.

Decidiu então montar a Igreja Quadrangular do Triângulo Redondo. Com essa, ele objetivava investir no mesmo mercado da sua inspiradora: a Universal. A ideia era fornecer os mesmos serviços, desde os mais simples como “terapia do amor” e “fogueira santa do sai-macumba” até os mais sofisticados como: certificados de aprovação no juízo final e lotes no céu com vista para o clube social do sindicato dos querubins. A diferença é que ele forneceria tudo com até 20% de desconto, parcelamento em até 24 meses e aceitaria Master, Visa e American Express. Além disso, na compra de um lote, você ganhava duas fogueiras e uma terapia do amor totalmente grátis. Pois ele me disse que foi um enorme sucesso: as pessoas nunca haviam encontrado tanta comodidade para doar tudo o que têm para a Igreja.

Essa estória do Zé me deixa comovido. Como o homem se regenerou... Quem diria que aquele bebum fosse se tornar um homem de negócios, um agente do progresso. Ele até me convidou para visitar sua Igreja. Aliás, foi aí que eu perdi minha casa, meu carro, meu pingente de prata do Vila Nova...

As pessoas mais generosas do mundo


Se você é como a maioria dos contribuintes brasileiros, volta e meia acorda no meio da noite, suando frio e pensando: “Será que estou fazendo minha parte para ajudar os cabos eleitorais das eleições?”

Fico feliz em informar que: sim, você está! E isto graças a corajosas atitudes como a de nosso Executivo nacional, cujo lema é “Ah, não é nosso dinheiro mesmo!”. Refiro-me aos cargos comissionados que, a cada dia, tornam-se mais numerosos e protegidos. Graças à nossa compreensão da importância que estes excelentes profissionais, escolhidos por seleções rigorosas e monitorados com eficiência, têm para a qualidade do serviço público e para a boa utilização dos recursos do contribuinte!

Aliás, você vem sendo bem generoso: só no ano passado, o Executivo nacional contratou mais de 2.000 novas estrelinhas vermelhas para nos bem servir. Desde a Constituição de 1988 que os cargos de chefia são dados a esses felizardos. Mas nenhum governo avançou tanto nesse benefício como o atual, o número deles aumenta cada dia mais, junto com seus respectivos salários. Tudo isto para garantir a boa gestão do serviço público. Em alguns anos, continuando assim, estes comissionados estarão com a gestão pública tão boa que terão que se esconder dentro de seus cofres com medo de serem atingidos por fardos de dinheiro dos contribuintes sendo jogados sobre eles por borbardeiros da Força Aérea.

Você deve estar pensando: “Espere aí: criar empregos para as pessoas no Governo não é mais ou menos como... assistencialismo?”

Não, não é. Assistencialismo é quando o governo dá dinheiro para quem não produz nada. Os comissionados, no entanto, produzem algo que é crítico no nosso país: votos. Parlamentares poderosos de todos os trinta e dez partidos – além do mais animado de todos: o presidente Lula – acreditam que, se jogarem dinheiro o bastante no colo dos comissionados, esses os reelegerão, permitindo, assim, que dêem continuidade ao trabalho vital de jogar mais dinheiro no colo dos comissionados.

Na qualidade de contribuintes, vocês também gostarão de saber que nós pagamos a existência de milhares de jornais tão importantes que... ninguém lê. Ou seja, não fosse a vossa generosidade, quantos jornalistas estariam desempregados! Essa mesma generosidade também chega às TVs, às rádios, ao carro de som do Zé-falante e por aí vai. E tudo isso ajuda o Governo a se tornar uma espécie de amigo de infância da Imprensa, o que te evita o incômodo de ser informado de qualquer possível (mas muito improvável) escorregadela que o governo possa cometer – o que, aliás, é um assuntinho chato do qual você muito corretamente paga para se abster.

Tudo isso é de extrema importância, pois imaginem-se olhando nos olhinhos de seu filho e dizendo: “Meu filho, o papai está sem dinheiro para o almoço, as escolas estão péssimas, os hospitais estão falidos e o ladrão fez cocô na cabeça do guarda porque nós não pagamos o salário dos comissionados que, com sua administração profissional e brilhante, teriam dado a nós um Estado bem gerenciado e organizado”.

Sim, seria um mundo horrível, com certeza. É por isso que sou totalmente favorável à ampliação forte e constante que vem ocorrendo dos cargos comissionados. Espero que vocês concordem comigo. Felizmente, o presidente concorda.

Tristemunho de uma prostituta ao avesso


Pois hoje resolvi fazer meu “tristemunho” de professor desvalorizado injustiçado ai meu Deus como eu sofro da Silva. Todo professor o faz diariamente. Eu acho maçante. Vou fazer dessa vez só e não se fala mais nisso.

E me bateu essa vontade hoje, quando eu, todo “hablante”, fui comentar que havia sido professor por nove anos e que ainda me ardia um pouco a falta do giz – abstinência. Foi aí que ouvi um comentário desconcertantemente constante quando menciono esta profissão: uma garota afirmou logo que não conseguiria jamais trabalhar com isso, que era difícil demais, que não teria paciência..., enfim. Esse tipo de afirmação sobre a profissão de Platão é estranhamente comum. Engraçado que vários estudos foram feitos, tanto por estatísticos quanto por economistas, e as conclusões foram sempre bem claras: de que a profissão de professor ganha de longe no quesito “prazer no exercício” quando comparada às demais profissões do mesmo nível de formação e de remuneração.

Mas não fica difícil entender essa opinião tão comum. Basta analisarmos o fato único entre as profissões de que a de professor deve ser comparada com duas classes de outras: as de mesmo nível de instrução e as de mesmo nível de remuneração.

Comparando com as que apresentam o mesmo nível de instrução (superior), podemos comparar o prazer de dar uma aula de História da América com o de passar uma hora escrevendo uma petição para o juiz (no caso dos advogados); ou então comparar o prazer de passar uma hora explanando, em frente a uma platéia, os últimos avanços da genética com o de passar uma hora atendendo quatro ou cinco pacientes ao melhor estilo “a fila anda!” (médico da era “plano de saúde fascista” é assim). Aí fica mais fácil entender o fundamento das pesquisas dos economistas.

Agora comparemos com os que têm o mesmo nível de remuneração: compare passar uma hora ensinando as regras de concordância verbal com passar uma hora recolhendo lixo pelas ruas. Ou então compare o passar uma hora ensinando equação química com passar uma hora lavando e passando roupas.

A profissão de professor é sim uma das mais deleitosas e gratificantes que o ser-humano pode almejar, o lidar com a matéria-prima deste ofício – que é o conhecimento – traz incomparável satisfação intelectual, a gratificação de poder tocar o espírito das pessoas então... No entanto, estudar como um advogado para ganhar como gari é coisa para budista em processo de desapego da matéria e não para um profissional.

Nesse contexto, é bom mesmo que aquela garota e muitas outras continuem olhando, com o olhar mais crítico que puderem, apenas para o que pode ser difícil no exercício dessa profissão. Assim não precisam ter paciência... com o salário. Aliás, “e o salário ó....”

A devida babação de ovo



Diz aí: você curte um rock’n roll? E que filme você assistiu a última vez que foi ao cinema? Aliás, quantos filmes de Hollywood você já assistiu na vida? Então até o Shrek você assistiu? E você acompanhou a série Friends? E a 24 horas? Com direito a torcer pelo Jack Bauer e tudo? Eu sei, eu também prefiro Lost. Você se lembra do MacGyver? Dos Simpsons também? Pois o que tudo isso tem em comum, além da sua pessoa? Tem os Estados Unidos da América.

Os Estados Unidos me parecem, ao contrário do que é moda se falar nas rodinhas de bate-papo de brasileiros, uma nação formidável. É claro que, partindo do princípio – ao mesmo tempo realista e cristão – de que ninguém é perfeito, eles também não o são. No entanto, parece-me muito claro que eles possuam uma trajetória histórica e uma estrutura, enquanto nação, admiráveis.

O motivo de eu estar começando este texto com esta “babação de ovo” é justamente porque ninguém pára para fazer isso logo de uma vez. Na verdade, ouvir quem fale bem dos EUA nesse país nosso é quase tão raro quanto ouvir alguém que realmente não goste deles por aqui. É isso mesmo que eu disse: os brasileiros são apaixonados pelos norte-americanos, mas ainda assim conseguem ser sinceros quando dizem detestá-los. Tão sinceros quanto a garotinha que faz “figa” dizendo detestar o garotinho pelo qual ela é intimamente apaixonada – é que ela realmente gostaria de detestá-lo... Parece singelo, mas isso quando feito por uma nação é algo deprimente. Brasileiros e norte-americanos muito mais compartilham em valores do que divergem, e, com o tempo, vêm compartilhando cada vez mais (e não, eu não acho isso ruim).

Eu poderia começar a citar o que é admirável nos EUA, falar do fato deste ter sido a primeira democracia moderna (muito antes dos europeus), do fato de nunca terem permitido um ditador nojento mandando neles, enquanto nós latino-americanos não só os temos mais do que temos novelas de TV como ainda posamos de mocinhas vítimas jogando a culpa disso no “Tio Sam”. Pois haja vergonha na cara! Cada nação é que luta pelo que é seu! Ou os norte-americanos (não adianta, não vou chamá-los de “estadunidenses”) não tiveram que gastar sangue e unha para não deixar os ingleses fazerem com eles o que qualquer nação assanhada vive fazendo conosco?! Aliás, se ditadura fosse culpa do réu Sam, Hugo Chavez não estaria assmindo esse carguinho sujo na Venezuela.

Eu poderia falar ainda do fato também deles serem fiéis à mesma Constituição de sua fundação, e isto porque se mantêm fiéis ao mesmo projeto nacional dos “pais da pátria”. Ou falar do dollar, a mesma moeda desde... sempre! Ou então falar de coisas mais simples como o jazz, o rock’n roll (aliás, por que será que os mais ferrenhos “destestadores da América” são nossos roqueiros tupiniquins? Freud explica...), Hollywood (não, ela não é apenas uma fabricazinha de filmes fúteis, é a maior indústria do entretenimento já criada), ou até mesmo o Woodstock e, claro, a Harley-Davidson (adoro). Enfim, motivo para gostar dos caras não falta.

No entanto, o motivo para fingir (inclusive para nós mesmos) que não gostamos deles é de foro íntimo, nos sentimos tão diminuídos que não temos auto-estima nem para admitir nossa admiração. Então ficamos colecionando motivozinhos pelos quais nós achamos que deveríamos detestá-los. Agora com o estadista pop-star Barack Obama ficou mais difícil manter firmes os recalques da moçada. Talvez isso ajude um pouco.

Pois eu acho que, se nós já tivéssemos admitido nosso sincero apreço pelos brothers e rendido a eles a devida “babação de ovo” há mais tempo, já poderíamos estar cuidando de coisas mais importantes agora e gastando menos energia e hipocrisia com esses “recalques” ridículos.

Aliás, que tal um cineminha?

O pau ambiental e o rabo da economia



Cada dia fica mais claro que a nova religião é a Ecologia. Ainda há os tradicionais adeptos de Cristo, Jeová, Alá, Buda ou Krishna que seja. Mas a religião que mais cresce mesmo é a tal da Ecologia. Alguém bom de frases já disse que o perigo de quem pára de acreditar em Deus é o de passar a acreditar em qualquer besteira. Pois é o caso.

Na verdade, os ateus sempre tiveram suas religiões, com o único diferencial de não saberem que as tinham. Antigamente era o comunismo: o cara saía da Igreja e quando via estava adorando a Marx Pai, Lênin Filho e Trotski Espírito Santo. Como hoje se tornou simplesmente impossível uma pessoa com menos de 50 anos ou mais de 80 de Q.I. acreditar na salvação vermelha do comunismo, os ateus ficaram órfãos. Pois é aí que entra a mãe natureza: vem acolhendo todo mundo.

Nesta nova religião, que começou com os profetas do “salvem as baleias” e passou pela lenda urbana mais espalhada da História – a do “bicho papão do buraco da camada de ozônio” –, o inimigo (toda religião precisa ter um) vem se firmando e concentrando cada vez como sendo a Economia. Esta parece estar assumindo o cargo de Belzebu “coisa-ruim” da doutrina. Tudo o que é lucrativo é suspeitoso para as ararinhas azuis do sudoeste da Malázia que vivem na Tanzânia e fazem um pipizinho na Nova Zelândia. Se for trazer algum lucro então, pecado capital! A palavra “progresso” assume o lugar de palavras como “luxúria” (para os cristãos) e “mais-valia” (para os comunas) – ou seja, palavrão mesmo! Alguns não-fiéis bem intencionados tentam contemporizar com o exército do era-melhor-o-ser-humano-não-ter-existido e inventam termos como “desenvolvimento sustentável”. Vale a tentativa... frustrada.

Fico pensando que, agora que o “lado vermelho da força” vinha dando uma trégua (com todo o seu boicote e pessimismo) e vinha surgindo uma chance mais séria para esse nosso país acreditar e avançar de verdade nesse jogo em que se joga querendo ou não (e é melhor querer) chamado capitalismo, surgem esses ecobobos colocando água no chope. E é impressionante como, nessa nova religião ateia, quase tudo o que atrapalhava na outra continua. Agricultor continua sendo tratado como seguidor do diabo, industrial então merece fogueira, empreendedor é mensageiro do Apocalipse. Aliás, eles pregam um apocalipse ecológico mesmo...

O que eu acho mesmo é que as religiões parecem estar acompanhando as armas e ficando mais perigosas com o tempo. Hoje em dia, só nos resta decidir entre entrar para a Universal e correr o risco de perder a casa, o carro, as economias, o tênis, a cueca e os três reais em moedinha de 10 que você estava guardando pro vigia, ou passar a gozar enquanto o pau ambiental acaba com o rabo da nossa economia.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Psicanálise de bêbado


É interessante como algumas idéias pegam. Interessante ou irritante, dependendo do absurdo que é a idéia. O fato é que as idéias surgem de algum lugar e, como um inseto, só precisam de um ambiente propício para se reproduzir. Ter fundamentos? Luxo desnecessário.

Idéias como antiglobalização, antiamericanismo, antiliberalismo, anti-sucrilhos-de-chocolate, enfim, esses “antis” histéricos encontraram sua água do aedys nos países latino-americanos. Pois esta “aguinha” é a nossa amarga e crônica baixa auto-estima, que advém de uma errônea auto-percepção como “ocidentais menores”, auto-percepção que não passou pela nossa garganta e que foi regorgitada em forma de uma rebeldia e angústia muito familiares a quem conhece a teoria freudiana. Quem não conhece Freud, pois chame de inveja mesmo.

As nações têm seu desenvolvimento psicanalítico próprio. No final das contas, agem como se fossem um indivíduo. E um indivíduo, quando reconhece – dentro de seu próprio conjunto de valores – alguém melhor do que ele (ou que ele avalie como sendo melhor do que ele) só pode reagir de duas maneiras: (1) a maneira saudável, quando sua auto-estima é suficiente para ele passar a admirar profundamente aquele que considera superior; e (2) a maneira patológica, quando o indivíduo carrega uma baixa auto-estima pesada que o obriga a fingir um desprezo abnegado, produzindo inveja – um desperdício terrível de energia que gera atraso e sofrimento.

Os países latino-americanos, por vezes, tentam se afirmar no mundo ocidental, mas, de tempos em tempos, acabam caindo em buracos de negativismo e reação histérica de revolta para com o projeto moderno ocidental. É mais ou menos aquela saída besta de dizer que não perdeu a corrida porque nem tentou ganhar. É covarde, é deprimente, mas é o que acontece corriqueiramente entre indivíduos (e nações) com baixa auto-estima. Abstêm-se de tentar, privam-se de vencer por um pavor paralisante de serem derrotados.

No Brasil, um suspiro de melhoria de auto-estima vem do nosso futebol – o grande esporte ocidental por excelência. Nele, somos grandes. Nele, não temos medo de tentar. Nele, como que mostramos ao papai ocidental que nós também temos um “pipiu”. Que gracinha...

Já em outras áreas, o Brasil recalcado comanda. Esconde logo o “pipiu” e fica gritando que o do papai nem é tão grande assim. Na economia, por exemplo, inventaram um “João bobo” para ser detonado em qualquer roda de bate-papo sobre o assunto, do butiquim à USP (aliás, mais ainda na USP), chama-se “neoliberalismo”.

O papo contra o tal do neoliberalismo é mais do que conhecido, é mais ou menos como um jogo em que se ganha quem forma o máximo de combinações possíveis com as palavras imperialismo, yankees, Bush, justiça social, capitalismo selvagem, alienação, reacionários e distribuição de renda. Tudo isto deve ser gritado como em briga de vila. No entanto, esta animosidade esfria instantaneamente se o assunto mudar para assuntos que são “dodóis mimados” dos brasileiros como “Cuba”. Aí a condescendência é maior que a de mãe de presidiário. Seja falta de liberdade, atraso, fome, extermínios, tudo ali passa a ser plenamente justificável, razoável, correto e digno de ser seguido. Se alguém falasse: “O Fidel come criancinha! Eu vi!”, mostrasse foto, prova cabal e três confissões do próprio “Él Comandante”, alguém de pronto justificaria isso como sendo alguma forma de se fazer justiça social ou algo em prol da “crasse trabaiadora”.

A embriagues é tão comovente e parece tão acolhedora que até chega a dar uma vontadezinha de se entregar a ela. Mas se você algum dia entrou pelo caminho sem volta de simplesmente analisar imparcialmente o que o tal “bicho papão” do “neoliberalismo” fez com a Coréia do Sul na Ásia e com o Chile na América Latina e depois analisar dois países histórica (até a década de 60) e geograficamente similares a estes – Cuba, na América Latina, e Coréia do Norte, na Ásia – fica impossível trilhar o caminho gostoso da ignorância. Depois de trilhado este caminho, só sendo esquizofrênico para não perceber a diferença entre os dois mais novos membros do “super vip” (e não é micareta) clube dos países desenvolvidos (Chile e Coréia do Sul) e os dois países onde falta absolutamente tudo, de comida a liberdade (Cuba e Coréia do Norte). Como o neoliberalismo fez mal ao Chile, não?! À Coréia do Sul então... Mas também: que absurdo deixar países pobres ficarem ricos, não é mesmo?! Isso é traição à classe! É “abandaná os parcero, mano”! Bem estão os cubanos! Os norte-coreanos nem se fala... Aquela raçãozinha seca na hora do almoço, hmm... Dá até vontade de me mudar para lá...

Posso imaginar algum embriagado da cachaça mental latino-americana que tropece com este texto. Pois exclamará de pronto algo super fundamentado como: “O que você quer dizer com desenvolvimento?! Para mim, Cuba é que é desenvolvida!!”. É difícil conversar com bêbado...

É... o Brasil precisa urgentemente de uma psicanálise... Ou de um café bem forte.