segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Entre Sandy e Simone de Beauvoir


Como eu sei admirar as pessoas autênticas! A pessoa autêntica é aquela que em algum momento decidiu desenvolver sua própria personalidade ao máximo.

Minha ideia aqui é explicar o que entendo por autenticidade. Para isso cito duas pessoas absolutamente diferentes, mas com uma só coisa em comum: a autenticidade. Essas pessoas são Sandy e Simone de Beauvoir.

Você deve ter dito agora: Sandy?!! Sim: Sandy. A irmã do Junior, filha do Chitãozinho e Xororó (para mim é filha dos dois, porque eu nunca sei de qual dos dois...). A autenticidade de Simone é hoje mais do que reconhecida: a instigante esposa de Sartre, que quebrou todas as convenções que não lhe faziam sentido, que criou uma nova maneira de ser mulher, de ser esposa, de ser francesa, de ser humana. Mas a autenticidade de Sandy é muito pouco reconhecida... ainda. As mesmas pessoas que elogiam Simone criticam Sandy. Nem toda pessoa muito criticada é autêntica, mas toda pessoa autêntica é muito criticada. Simone foi muito criticada em sua época também. Hoje topei com esse desabafo da Sandy: “Não sou frágil como imaginam, é que engano porque sou pequenininha.”

Há um bom tempo que penso em fazer uma espécie de "ode à Sandy". Não pela sua beleza. Acho ela uma gracinha - mas não a ponto de lhe dedicar uma ode por isso. Faço uma ode à sua personalidade.

Para entender o que eu vejo na personalidade da Sandy, você precisa analisar o contexto em que ela vive. Depois que a Madona inventou – e a Britney Spears comprovou – que cantora que dá uma de “perva” faz mais sucesso, toda cantorazinha bonita que surge tem que se esforçar ao máximo para parecer que é pelo menos 3 vezes mais piranha que a moça que está rodando bolsinha na esquina. Imagino quantas vezes a Sandy – pelo menos desde os seus 14 ou 15 anos – teve que recusar o “conselho profissional” de marqueteiros e agentes desse ramo de que ela deveria fazer uma cara de vagabunda em algum videoclipe para tentar vender mais discos, ou de mostrar o apêndice num ensaio sensual na Revista Putas para aumentar seu cachê nos shows.

Não estou querendo dar uma de puritano, meu assunto aqui é autenticidade: se a personalidade, os valores, a história, enfim, se aquilo que faz da Sandy a Sandy combinassem com o jeito “safadinha” de ser, aí seria extremamente autêntico ela posar nua em revista, participar seminua de reality show... Mas aí ela não seria a Sandy.

O pior é quando, em vez de autenticidade, enxergam falsidade no jeito da Sandy. Já vi várias pessoas dizendo: “Ela quer dar uma de santa!”. Se minha intuição é tão boa quanto eu acho que ela é, a Sandy lida muito bem com sua sexualidade, mas entre quatro paredes, e com o marido dela. O que as pessoas têm que entender é que ela é uma mulher que foi criada com muito cuidado por pais bastante conservadores, e que ela herdou dos pais esses valores. Se ela resolvesse fingir ser quem não é para “agradar” quem a chama de “santinha do pau oco”, aí sim ela estaria praticando uma violência contra si. Violência essa que quase todas as pessoas cometem o tempo todo simplesmente por não se conhecerem, por não se respeitarem, simplesmente por não serem autênticas como são essas grandes mulheres pequenininhas Sandy e Simone de Beauvoir.