sexta-feira, 21 de maio de 2010

O que aconteceu ao gentleman?




Faz tempo e eu nem era vivo, mas o Fred Astaire costumava ser um cara em quem se espelhar. Ele dançava, ele cantava, ele sorria, ele se vestia bem, e ele saía com ninguém menos do que a Ginger Rogers (ah, ela era muito linda...). Mas que inferno! Hoje em dia qualquer um que tenha pelo menos metade dessas características faz, no mínimo, com que as pessoas o olhem de um jeito esquisito.

Então, o que aconteceu afinal com homens como ele? Homens como Astaire, como Sinatra, como Tom Jobim. Gentlemen. Cavalheiros. Eu não sei. Mas, o que quer que seja, aconteceu também com as damas. Façamos uma lista: um gentleman é educado, inteligente, esperto, talentoso, modesto, bem arrumado e culto. Por que será que os caras de hoje têm tanto medo de possuir esses traços de personalidade?

Talvez seja porque eles estejam muito ocupados em ser rudes uns com os outros em público, em ficar bêbados de vomitar e em arrumar brigas na frente das garotas para que – dessa maneira genial – ninguém venha a pensar que eles tenham qualquer tipo de atração por outros homens. Aliás, quem inventou essa idiotice de que os gays são mais bem educados do que os heterossexuais? Qualquer pessoa que conheça uma meia dúzia de gays sabe que eles podem ser (e que de fato são) tão rudes e grosseiros quanto qualquer heterossexual. E qualquer um que saiba quem é Tom Jobim sabe que não há como ser mais bem educado do que aquele perfeito gentleman foi.

Mas e o gentleman? Bem, o cara para ser um gentleman hoje em dia tem que se conhecer bem e ter fé no seu taco o suficiente para ser ele mesmo independentemente do que os outros vão pensar. E então aparece um jeca (ou uma jeca) para nos carimbar o rótulo um tanto pejorativo de “metrossexual”. Não! Ser um homem que tem cuidado com a maneira como se apresenta e com a maneira como lida com as outras pessoas é simplesmente ser um cavalheiro. E ponto.

Os homens de hoje estão perdidos, coitados. Eu tenho visto tantos caras sem saber o que fazer, em dúvida sobre como deveriam agir em determinada situação. E no fim fazendo exatamente o oposto do que seria mais apropriado. Tanta grosseria para esconder tanta falta de confiança... Nossos avôs saberiam exatamente como agir, e os pais deles também, e os pais dos pais deles. A masculinidade está hoje em crise. E isso aconteceu porque a geração antes de nós (a geração “rebelde”) rejeitou noções muito bem estabelecidas como, entre outras, a de que um homem deve se portar como um cavalheiro (vou citar essa palavra 700 vezes). Fazendo isso, jogaram fora coisas boas sem colocar nada de melhor no lugar. Jogaram fora o que os homens levaram pelo menos dois mil anos para desenvolver e que é a maior e a mais bem acabada marca de masculinidade: o cavalheirismo (não é o futebol).

É por isso que os poucos homens que redescobrem o cavalheirismo se sentem mais confiantes consigo mesmos e se tornam homem melhores (sim: melhores). As próximas gerações não têm saída: terão que redescobrir o cavalheirismo para poderem se descobrir homens. Já os homens dessa nossa geração vão, na sua maioria, envelhecer como meninos, como moleques velhos que nunca aprenderam a arte, passada gerações a fio, de como se deixa de ser um moleque e como se passa a ser um homem: enfim, a arte do cavalheirismo.




2 comentários:

  1. matriculei-me na escola da distinção e de lá só saio quando morrer. Se por acaso conseguir colação de grau antes do inevitável anoitecer, elejo-me docente!

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  2. Gostei do texto, Alexandre. E a obra que você escolheu do Renoir, além de ser muito linda, transmite bem a imagem de um cavalheiro perante sua dama.

    Eu não sei se é só rebeldia em jogo... Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, participando de campos antes restritos ao homem, isso, de certa forma, provocou desconforto na maneira comportamental masculina.

    Mulher, dificilmente, vai entrar em confrontos físicos com homem. Então, este campo a mulher não "invadiu": o da força bruta. Mas, um homem que se ache homem só por conta desse fator, eu considero um fraco na verdade. E é até por isso, cenas deploráveis e decadentes de violência e desrespeito para com o próximo e para com o próprio indivíduo tido por "machão" são vistas.

    A força a ser medida e admirada deve estar no caráter, na busca de ideais que façam a diferença. Mas, como diria a Pitty, isso é só uma questão de opinião...

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