domingo, 29 de agosto de 2010

Superman e o anel dos nibelungos




O que penso dos EUA é que eles são uma nação admirável. Eu sei que isso deve ter soado, para a maioria de vocês, algo como que ofensivo, ou estúpido, se não ambas as coisas. Sem dúvida mais ofensivo do que se eu estivesse elogiando países como a Coréia do Norte, o Iran ou o Sudão.


Um país, só isso

No entanto, eu vejo os EUA como aquilo que eles são: não uma organização internacional, não uma ONG, nem uma segunda Santa Sé. Os EUA são um país, e, como tal, são conduzidos por um presidente da república e não pelo papa, nem pelo Dalai Lama. Sendo um país como qualquer outro, sua política externa é voltada para a busca dos interesses nacionais.

O que nubla a percepção de muita gente é a ideia de que os EUA deveriam atuar em busca dos interesses da humanidade, ou segundo princípios de bondade ou justiça, ou seja, como se fossem o superman mesmo: em defesa dos fracos e oprimidos e por causa do mais puro altruísmo.

Mas o superman não existe. Nem o papai Noel. E se você tem mais de 7 anos de idade, também não deveria acreditar mais nisso.


Complexo de superman

No entanto, o superman diz muito sobre a ideia que os americanos fazem de si mesmos, e, o que é pior, sobre a ideia que as pessoas no resto do mundo fazem de como deveria agir os EUA. Esse é o que chamo de complexo de superman.

Essa mania de analisar a política externa norte-americana em bases morais é uma criação dos próprios norte-americanos. Desde Woodrow Wilson os EUA insistem em justificar sua política externa em termos morais, fundamentando-a em altos princípios de justiça.


As prostitutas e a falsa virgem

A insistência dos norte-americanos nessas justificativas morais – muitas vezes pouco consistentes – fortalece o antiamericanismo latente no mundo. O antiamericanismo não é fruto disso, mas ganha com isso muito combustível para queimar. Países com políticas externas absolutamente amorais ou mesmo imorais se arvoram o direito de criticar a política externa americana justamente em termos morais – é a história das prostitutas falando mal da falsa virgem.


A relação entre democracia e moralidade

No entanto, as democracias impõem uma nova variável no estabelecimento do que é o interesse nacional: a opinião pública – esta fez com que a política externa americana acabasse adotando de fato alguns princípios de moralidade.

Foi a democracia norte-americana que impediu a materialização de um império mundial sob seus pés durante os seis anos após a II Guerra em que os EUA gozaram de um monopólio nuclear. Refiro-me ao conceito clássico de império, cujo maior expoente foi Roma, não ao conceito contemporâneo forjado por Lênin. Uma política externa tradicional, que não tivesse que agradar a opinião pública interna, teria usado essa abissal superioridade militar para simplesmente forçar na marra a manutenção desse monopólio nuclear, o que daria ensejo à formação de um império mundial de facto.


A renúncia ao império mundial

O erro de alguns analistas em perceber essa situação do pós-guerra é pensar que os EUA teriam que fazer uma guerra contra a URSS para impor a manutenção desse monopólio.

Um pouco de conhecimento estratégico desfaz essa idéia. Em um período em que os EUA já dispunham de dezenas de bombas nucleares com plena operacionalidade aliada a uma então imbatível superioridade aérea, isso não seria uma “guerra”, seria uma “operação diplomático-militar” de bombardeios nucleares e ofensivas diplomáticas sucedidas por mais bombardeios nucleares e mais ofensivas diplomáticas. Eles não teriam que invadir, teriam apenas que começar a destruir as principais cidades russas até forçá-los a “cooperar”. Hiroshima e Nagazaki provam tanto a viabilidade militar quanto a inviabilidade política dessa estratégia nos EUA, pois a terrível impopularidade que essas ações no Japão gozam até hoje nos EUA – sem falar do complexo de culpa crônico que gerou nos americanos – provam que nenhum presidente americano se sustentaria no poder se tentasse empreender uma política tão imoral.


E se o “anel dos nibelungos” caísse em outras mãos?

uma política externa tradicional, sustentada por um país tradicional, teria imposto tal império com uma facilidade constrangedora. Como exercício didático, basta imaginar o desenrolar da História caso o destino tivesse premiado com esse monopólio as mãos alemãs (não obrigatoriamente as dos nazistas), ou se esse privilégio coubesse aos soviéticos. Esse exercício pode se alongar indefinidamente, se começarmos a imaginar que utilização seria dada a essa ferramenta pelos franceses, pelos italianos, pelos britânicos, ou mesmo pelos argentinos, chineses ou japoneses... Esse exercício, quando feito por alguém com imaginação ponderada, deixa claro a excepcionalidade da política externa norte-americana.


Um mundo cheio de países

O fato que passa despercebido é que a opinião pública norte-americana funciona como um colchão moral que amortece os rigores da utilização do vasto poder daquele país. No entanto, não elimina esse poder nem retira os interesses nacionais do centro de sua condução política – o que é natural.

Tendo claro a distância de poder que separava os EUA do resto do mundo no período imediatamente posterior à II Guerra, fica claro que o fato de o mundo possuir hoje cerca de 190 países com o direito de hastear uma bandeira, ter um hino nacional e se dizer independente, e desses pelo menos 9 poderem provar essa independência na marra se perciso, isso é consequência de um capricho do destino chamado Estados Unidos da América.



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Meus temas recorrentes



Escrevendo esse blog, ficou mais claro para mim que tenho certos temas recorrentes. Mas acho que todo mundo tem seus temas recorrentes, aqueles assuntos que vira e mexe se está pensando sobre e discutindo a respeito. Acho que os temas recorrentes de uma pessoa dizem mais sobre ela do que suas origens, sua história e sua família. A análise do porquê de esses temas serem tão importantes para uma pessoa é um prato cheio para qualquer psicanalista. Eu não sou psicanalista, não sei me analisar. Mas pelo menos consigo listar meus temas recorrentes. Eles são três.

O primeiro eu intitulei carinhosamente de O Muro de Berlim. O embate entre esquerda e direita é uma verdadeira obsessão minha. Infelizmente isso raramente é de grande interesse para as outras pessoas, o que faz com que esse assunto seja responsável por pelo menos 80% dos momentos em que eu sou considerado “um saco”. Mas eu simplesmente não consigo me conter, quando vejo estou falando sobre isso e as pessoas saindo de perto como se eu tivesse soltado um pum. Principalmente porque, no Brasil, ou as pessoas são despolitizadas ou são de esquerda, e minha obsessão é sempre explicar por que eu considero os líderes de esquerda (Stálin, Mao Zedong, Pol Pot, Fidel Castro) uns genocidas filhos de uma p.... Meus textos sobre esse assunto são os menos comentados (e lidos) – o que é compreensível.

O segundo eu chamo de Guerra dos Sexos. As diferenças entre homens e mulheres e a relação entre esses seres de Marte e de Vênus me interessam mais do que o chocolate interessa às mulheres. Felizmente, nesse caso, a maioria das pessoas também compartilha desse interesse. Conscientemente, quando quero me divertir e divertir quem está perto, toco nesse assunto. Meus textos sobre isso são os mais lidos e comentados também. Talvez eu devesse escrever mais sobre isso...

O terceiro eu chamo de Crepúsculo do Macho. O estereótipo que as pessoas fazem da figura masculina e a maneira como um homem deve se portar para ser visto como viril é algo que me interessa simplesmente porque eu não concordo com a visão geral e nunca me enquadrei nela. Eu nunca fui aquele macho típico goiano que coça o saco e cospe no chão e nunca achei que devesse ser assim, aliás eu me recuso. Ser educado e fino hoje (pelo menos em Goiânia) é pedir para as pessoas acharem que você é gay – o revoltante não é imputarem uma homossexualidade que não existe e sim essa ideia de que só os gays e as mulheres têm o direito de serem finos e educados. O que foi feito de James Bond e Fred Astaire afinal?! Mas esse é um assunto no qual eu penso muito mas discuto pouco porque eu tendo a perder a paciência com quem eu estou discutindo e agir com mais grosseria do que nenhum macho típico goiano seria capaz.

Por fim, um dos meus maiores interesses é saber quais os temas recorrentes das pessoas ao meu lado. Já notei que quase ninguém sabe conscientemente quais são os seus próprios temas. Portanto, não adianta perguntar, eu tenho que observar e descobrir. Eu sei quais os temas recorrentes dos meus amigos próximos melhor do que eles mesmos. Tenho um amigo que tem obsessão pelo que ele chama de “estilo” (estética, aparência), outro que filosofa o dia inteiro sobre “como curtir bem a vida” e um outro que pensa o tempo todo em sexo.

E você? Quais são seus temas recorrentes? Eu adoraria saber...