quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Tristemunho de uma prostituta ao avesso


Pois hoje resolvi fazer meu “tristemunho” de professor desvalorizado injustiçado ai meu Deus como eu sofro da Silva. Todo professor o faz diariamente. Eu acho maçante. Vou fazer dessa vez só e não se fala mais nisso.

E me bateu essa vontade hoje, quando eu, todo “hablante”, fui comentar que havia sido professor por nove anos e que ainda me ardia um pouco a falta do giz – abstinência. Foi aí que ouvi um comentário desconcertantemente constante quando menciono esta profissão: uma garota afirmou logo que não conseguiria jamais trabalhar com isso, que era difícil demais, que não teria paciência..., enfim. Esse tipo de afirmação sobre a profissão de Platão é estranhamente comum. Engraçado que vários estudos foram feitos, tanto por estatísticos quanto por economistas, e as conclusões foram sempre bem claras: de que a profissão de professor ganha de longe no quesito “prazer no exercício” quando comparada às demais profissões do mesmo nível de formação e de remuneração.

Mas não fica difícil entender essa opinião tão comum. Basta analisarmos o fato único entre as profissões de que a de professor deve ser comparada com duas classes de outras: as de mesmo nível de instrução e as de mesmo nível de remuneração.

Comparando com as que apresentam o mesmo nível de instrução (superior), podemos comparar o prazer de dar uma aula de História da América com o de passar uma hora escrevendo uma petição para o juiz (no caso dos advogados); ou então comparar o prazer de passar uma hora explanando, em frente a uma platéia, os últimos avanços da genética com o de passar uma hora atendendo quatro ou cinco pacientes ao melhor estilo “a fila anda!” (médico da era “plano de saúde fascista” é assim). Aí fica mais fácil entender o fundamento das pesquisas dos economistas.

Agora comparemos com os que têm o mesmo nível de remuneração: compare passar uma hora ensinando as regras de concordância verbal com passar uma hora recolhendo lixo pelas ruas. Ou então compare o passar uma hora ensinando equação química com passar uma hora lavando e passando roupas.

A profissão de professor é sim uma das mais deleitosas e gratificantes que o ser-humano pode almejar, o lidar com a matéria-prima deste ofício – que é o conhecimento – traz incomparável satisfação intelectual, a gratificação de poder tocar o espírito das pessoas então... No entanto, estudar como um advogado para ganhar como gari é coisa para budista em processo de desapego da matéria e não para um profissional.

Nesse contexto, é bom mesmo que aquela garota e muitas outras continuem olhando, com o olhar mais crítico que puderem, apenas para o que pode ser difícil no exercício dessa profissão. Assim não precisam ter paciência... com o salário. Aliás, “e o salário ó....”

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