quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Bonitinha, mas ordinária



Bom para ler ouvindo: Last Nite - The Strokes

Estes dias recebi um convite para uma espécie de show de rock misturado com exposição fotográfica. O fato da autora do evento ser amiga minha e namorada de um dos meus melhores amigos me levou a dar mais atenção ao convite. Não fosse por isso, não iria. Não, nem a pau. Minha relação com essas “artes” (fotografia e rock) é complicada (eufemismo). As aspas já indicam isso...


Gostaria de resumir o que as artes, de maneira geral, significam para mim. Mas, para ser justo, teria que explicar com detalhes minha fixação per essa habilidade do ser humano de se aproximar do divino, teria que contar das minhas coisas com Stendhal, por exemplo, como quem conta sua estória com uma namorada por quem se apaixonou. Enfim, não vem muito ao caso. No entanto, entre as artes que mais desconheço (e menos me interesso) está a fotografia. Não fosse pela chamada “dança contemporânea”, seria a última definitivamente. Mas, na verdade, isso é bom. Bom porque me ensina que o cara dizer (como já me disseram muito) que Machado de Assis é chato e que Miles Davis dá sono, é um ato (criminoso hediondo) que eu também cometo... em assuntos diferentes. Pois em matéria de fotografia, eu sou o cara que escuta Calypso e assiste filme do Steven Seagal.


Mas o mais interessante foi o insight que me desconcertou enquanto eu olhava as fotos. O insight eu prefiro contar com detalhes.


A exposição se chama “Rock Years”, o tema é basicamente o rock’n roll estilizado no visual de meninas lindíssimas. Então uma coisa bateu com força na minha cara: não é que o rock ficou bonitinho fofo cuti cuti? É isso mesmo, e, desde os também cuti cuti dos almofadinhas festivos de Liverpool, este gênero não se apresentava vestido assim.


Depois da decadência bêbada do paz, amor e um pouco de overdose da década de 70, da revolta acho-que-é-bonito-ser-feio (e fedido... e rasgado... e anarquista) dos punks nos 80 e da sessão cafono-cabeluda de gritinhos agudos do metal, o rock passou a ser cult – isso já há algum tempo e que já me causava estranheza. O rock... cult (!)... (?)... (?!!). Enfim, mas isso já não é mais, agora uma nova guinada: o rock é... uma gracinha. E eu não estou citando Hebe Camargo.


Não é aquela “gracinha” decidida e desabusada das “patricinhas”, é uma gracinha inconformada, que mistura um pouco de “sou rebelde e sou linda por acidente” com outro tanto de “nem estou ligando para ser bonita... mas sou!”. Tem um pouco a ver com o “ser comportado” ter saído de moda. Em momentos como esses é que surgem frases inéditas como “o mundo dá voltas”. Enquanto as meninas da década de 60 faziam de tudo para esconder os risquinhos no lustre de seus comportamentos, hoje é assim: mesmo quem é mais comportado que um cachorro em canoa tem que fingir por tudo que não é – para não perder o charme...


Enfim, no melhor estilo Nelson Rodrigues, a roqueira de hoje é bonitinha, mas ordinária. Pelo menos na aparência...

3 comentários:

  1. Não só na aparência meu caro Alexandre, somos ordinárias porque sabemos que juntamente com a nossa beleza, criatividade, talento artístico o nosso prestígio é garantido, e acredite, sem apostar na vulgaridade.
    Provamos que entendemos sim de Rock'n roll e que este não é um universo exclusivamente masculino.

    "Sou rebelde e sou linda por acidente"
    "Nem estou ligando para se bonita..mas sou"

    Tá aí!Parabéns.. como Chico..você captou a essêcia feminina rockeira contemporânea!haha
    adorei!!
    (Espero que não soe tão prepotente de minha parte..rsrs)

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  2. Não sei o que você, Alexandre, andou vendo, mas essas imagens de rock, principalmente garotas do rock, me soa uma essência emocore demais... hehe

    Existe mesmo garotas pré-fabricadas para o rock que são a persona de uma beleza plástica cantando versos de livro de auto-ajuda. Não só garotas, mas garotos também: Fresno, Nx Zero >> " O mundo vai girar..." Essas bandas são do gosto de boa parte de jovens.

    Se o rock está tendo esse tipo de visão "graciosa", tem que ser visto também o público que alimenta isso. Ter personalidade acaba virando estilo de roupa, acessórios a parte.

    Existem personalidades no rock, mesmo com essa onda de aparências.

    Antes de ir, ouça a banda Diablo Swing Orchestra, acesse o link abaixo, é rock alternativo, quem sabe por isso cult. rs Beijos!

    http://www.youtube.com/watch?v=gsmAF9cVPm4

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  3. Será que a fotografia não é arte? Vi esse link agorinha e não resisti... rs


    http://noticias.br.msn.com/fotos/galeria-bbc.aspx?cp-documentid=22827992&page=1

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