quinta-feira, 27 de agosto de 2009

As pessoas mais generosas do mundo


Se você é como a maioria dos contribuintes brasileiros, volta e meia acorda no meio da noite, suando frio e pensando: “Será que estou fazendo minha parte para ajudar os cabos eleitorais das eleições?”

Fico feliz em informar que: sim, você está! E isto graças a corajosas atitudes como a de nosso Executivo nacional, cujo lema é “Ah, não é nosso dinheiro mesmo!”. Refiro-me aos cargos comissionados que, a cada dia, tornam-se mais numerosos e protegidos. Graças à nossa compreensão da importância que estes excelentes profissionais, escolhidos por seleções rigorosas e monitorados com eficiência, têm para a qualidade do serviço público e para a boa utilização dos recursos do contribuinte!

Aliás, você vem sendo bem generoso: só no ano passado, o Executivo nacional contratou mais de 2.000 novas estrelinhas vermelhas para nos bem servir. Desde a Constituição de 1988 que os cargos de chefia são dados a esses felizardos. Mas nenhum governo avançou tanto nesse benefício como o atual, o número deles aumenta cada dia mais, junto com seus respectivos salários. Tudo isto para garantir a boa gestão do serviço público. Em alguns anos, continuando assim, estes comissionados estarão com a gestão pública tão boa que terão que se esconder dentro de seus cofres com medo de serem atingidos por fardos de dinheiro dos contribuintes sendo jogados sobre eles por borbardeiros da Força Aérea.

Você deve estar pensando: “Espere aí: criar empregos para as pessoas no Governo não é mais ou menos como... assistencialismo?”

Não, não é. Assistencialismo é quando o governo dá dinheiro para quem não produz nada. Os comissionados, no entanto, produzem algo que é crítico no nosso país: votos. Parlamentares poderosos de todos os trinta e dez partidos – além do mais animado de todos: o presidente Lula – acreditam que, se jogarem dinheiro o bastante no colo dos comissionados, esses os reelegerão, permitindo, assim, que dêem continuidade ao trabalho vital de jogar mais dinheiro no colo dos comissionados.

Na qualidade de contribuintes, vocês também gostarão de saber que nós pagamos a existência de milhares de jornais tão importantes que... ninguém lê. Ou seja, não fosse a vossa generosidade, quantos jornalistas estariam desempregados! Essa mesma generosidade também chega às TVs, às rádios, ao carro de som do Zé-falante e por aí vai. E tudo isso ajuda o Governo a se tornar uma espécie de amigo de infância da Imprensa, o que te evita o incômodo de ser informado de qualquer possível (mas muito improvável) escorregadela que o governo possa cometer – o que, aliás, é um assuntinho chato do qual você muito corretamente paga para se abster.

Tudo isso é de extrema importância, pois imaginem-se olhando nos olhinhos de seu filho e dizendo: “Meu filho, o papai está sem dinheiro para o almoço, as escolas estão péssimas, os hospitais estão falidos e o ladrão fez cocô na cabeça do guarda porque nós não pagamos o salário dos comissionados que, com sua administração profissional e brilhante, teriam dado a nós um Estado bem gerenciado e organizado”.

Sim, seria um mundo horrível, com certeza. É por isso que sou totalmente favorável à ampliação forte e constante que vem ocorrendo dos cargos comissionados. Espero que vocês concordem comigo. Felizmente, o presidente concorda.

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